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PSICOSE DE IA: QUANDO A CONVERSA COM CHATBOTS ALTERA A NOÇÃO DA REALIDADE

  • Foto do escritor: Rita Galindo
    Rita Galindo
  • 28 de out.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 29 de out.

Mulher negra com celular. Psicose de IA. Conversa com chatbot e isolamento emocional.

Você já ouviu falar em psicose de IA? Eu vou explicar neste texto, mas, para iniciar, imagine o seguinte cenário: você é uma pessoa que está vivenciando um processo de separação de um relacionamento longo. É sozinha, não quer contato com amigos, familiares ou algum outro conhecido. O que você faria para se ajudar nessa situação?


Pense com carinho e profunda reflexão, sem filtros ou restrições.


Há casos em que pessoas nesta mesma realidade e outras recorrem a chatbots, como o ChatGPT e similares, buscando encontrar conforto e acolhimento.


Se este é o seu caso, convido a me acompanhar nesse pensamento; se não é, sugiro ler o artigo até o fim e compartilhar, porque esse é um assunto que tem ganhado cada vez mais destaque ao redor do mundo.


O que é psicose de IA

A psicose de IA é um fenômeno que tem ganhado destaque nos noticiários e mídias e que, embora traga um peso no nome (psicose), não é um diagnóstico clínico – mas merece tanta atenção quanto.


Antes de avançar, vamos entender, de forma bastante simples, o que é psicose.


Imagine que a nossa mente é como uma casa com muitas janelas, pelas quais nós vemos o mundo lá fora. Dentro da casa, há histórias, lembranças, desejos, emoções. É possível ter uma noção clara daquilo que está dentro e aquilo que está fora.


Na psicose, por outro lado, essa noção é embaralhada. É como se as janelas estivessem quebradas, o vento de fora entrasse, bagunçasse tudo o que está dentro da casa, e levasse para fora.


A pessoa com psicose, então, passa a ouvir, ver ou sentir coisas que parecem reais, mas não são. São, na verdade, partes do seu mundo interno projetadas para fora.


Eu tenho um artigo que fala, justamente, sobre realidade e como ela pode nos afetar. Convido para a leitura também como forma de complementar esse pensamento.


Sendo assim, a psicose de IA diz respeito às alterações de pensamentos que o uso excessivo e prolongado de chatbots podem gerar, excluindo qualquer pensamento crítico e senso de julgamento.



Exemplo prático: isolamento e o apego ao chatbot


Para ficar fácil o entendimento, vamos retornar ao exemplo da pessoa que saiu de um relacionamento longo: fragilizada, essa pessoa busca informações de como superar essa dor em um chatbot; o chat, então, oferece interações constantes, dia e noite, “aprendendo” as nuances da fala dessa pessoa. Aos poucos, o chatbot se torna um confidente, e a dor propicia um novo olhar sobre o robô.


Conversando incessantemente com a IA, essa pessoa passa a ver a ferramenta não como uma máquina, mas como uma amiga ou, até mesmo, uma amante, passando a duvidar se, de fato, é um ser sem consciência mesmo.


E é aqui onde entra a psicose de IA: a perda da noção de realidade.


As situações não se limitam a perdas românticas. Há casos reais de indivíduos com ansiedade climática, autismo, paranoias e, até mesmo, demissão (PREDA, 2025), por exemplo, que buscaram o apoio do chat e foram sendo reforçados em suas crenças. Isso quer dizer que o chatbot nunca contestou a veracidade dos fatos, dos pensamentos e das ações desses indivíduos.


Eu tenho um artigo que pode complementar essa ideia de como a internet pode ser usada de forma errada que talvez você goste.


Quando o chatbot ajuda e quando faz mal

Os chatbots não são, necessariamente, ruins ou os vilões. O que acontece é que, na busca imediata por solução, algumas pessoas tendem a recorrer a essas ferramentas.


O problema é quando as interações com pessoas reais, que questionam e interagem a partir de suas vivências, passam a ser substituídas por elas.


Robôs de conversa com inteligência artificial livres não têm história de vida, não compartilham experiências reais e verdadeiras, não têm pensamento crítico que questiona e oferece ao outro reflexões.


Isso leva a uma contestação de ideias que, por vezes, podem vir carregadas de julgamentos. O chatbot não julga, mas também não contesta, não critica, não leva a uma reflexão. Isso porque ele é treinado dessa forma: nunca questionar.


No entanto, há casos que apontam o uso de chatbots para o aprendizado sobre saúde mental, como a psicoeducação, por exemplo. Ou seja, a busca por explicações científicas e, até mesmo, a indicação de especialistas (KLEINMAN, 2025).


Portanto, a ferramenta em si não é uma vilã, mas a intenção de quem a maneja.


Fica aqui a ressalva de que interagir com pessoas reais, trocar ideias e experiências é muito mais saudável do que recorrer apenas aos chatbots, como eu apresento no texto sobre amizades.


O consumo passivo e acomodado de um chatbot livre vai desencorajando a curiosidade, a criatividade, a atenção e o senso crítico. Por outro lado, se utilizada de forma complementar, pode ser uma aliada para provocar diálogos e gerar ideias (FRENCH, 2025).


Precisa de ajuda? Procure suporte humano

Para qualquer que seja sua dor emocional, buscar apoio em chatbot pode ser uma grande cilada. Primeiro, porque não existe presença real; segundo, não há sigilo e confidencialidade das suas informações pessoais e íntimas; e terceiro, para reforçar o que foi colocado nesse artigo, a ferramenta é treinada para concordar com você e te agradar.


Opte sempre por buscar suporte verdadeiro de uma pessoa de sua confiança ou de um profissional habilitado. Por mais difícil que seja o seu momento, encarar e trabalhar o que te incomoda e gera sofrimento é o que vai te proporcionar amadurecimento.


Procure a ajuda certa. Você merece.



Perguntas frequentes sobre psicose de IA

O que é psicose de IA?

É um fenômeno no qual pessoas emocional ou mentalmente sensíveis se refugiam em longas conversas com chatbots, perdendo o noção da realidade. Não é um diagnóstico, mas um fenômeno.

Conversar com chatbots é perigoso para quem está em crise emocional?

Pode ser, sim, uma cilada se você confiar única e exclusivamente no robô. Se for utilizado como um aliado na busca de referências e indicações, o chatbot pode funcionar bem. Por isso, é importante entender os limites do uso da ferramenta e buscar ajuda humana sempre (familiares, amigos, profissionais).

Como saber se estou perdendo a noção da realidade por causa da IA?

O primeiro ponto é perceber o tempo gasto "conversando" e "interagindo" com o robô. Segundo, avaliar se o chatbot é a única fonte de informações que você tem utilizado. Terceiro, analisar se o assunto que você busca na ferramenta é algo que você compartilha com pessoas confiáveis. Em resumo: quanto mais tempo permanecer interagindo com o chat, mais arriscado é.

Chatbots podem ajudar na psicoeducação?

Sim, os chatbots podem ser importantes aliados para o primeiro contato com assuntos diversos, o que inclui questões emocionais. Porém, chatbot nenhum diagnostica, medica ou é capaz de atender e compreender a complexidade que da vida psíquica. Portanto, ele pode ajudar e ser um aliado complementar, mas não um substituto dos profissionais humanos.

Onde buscar ajuda adequada?

Há vários psicólogos competentes e habilitados que oferecem serviço humanizado. Eu sou um bom exemplo. Se quiser agendar a primeira sessão comigo sem custo algum, basta agendar um horário. Há, também, serviços públicos de saúde e, se estiver em risco com sua vida, ligue para o CVV no telefone 188.



REFERÊNCIAS


CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Chatbot: apoio psicológico ou cilada? Disponível em: https://site.cfp.org.br/chatbot-apoio-psicologico-ou-cilada/. Acesso em: 27 out. 2025.


FRENCH, Aaron. O ChatGPT está nos deixando burros? Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cwygyg3x62vo. Acesso em: 27 out. 2025.


KLEINMAN, Zoe. ‘Psicose de IA’: O aumento de relatos que preocupa chefe da Microsoft. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c9d049lyw8jo. Acesso em: 27 out. 2025.


PREDA, Adrian. Special report: AI-induced psychosis: A new frontier in mental health. Disponível em: https://psychiatryonline.org/doi/10.1176/appi.pn.2025.10.10.5. Acessado em: 27 out. 2025.

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