GASLIGHTING: COMO A MANIPULAÇÃO EMOCIONAL PODE ADOECER CORPO E MENTE

"Esse comportamento é comum em relacionamentos abusivos, mas também pode acontecer no ambiente de trabalho, na família ou em amizades, e, até mesmo, no meio médico, quando este questiona as dores de seus pacientes".

Você já sentiu confusão, insegurança ou culpa mesmo tendo certeza do que sentiu ou viveu? Já ouviu alguém te dizer:

"Isso é coisa da sua cabeça"

"Você está exagerando"

"Isso nunca aconteceu"

"Você é muito sensível"?

Se sim, pode ser que tenha passado por uma forma sutil e perigosa de manipulação psicológica chamada gaslighting.

O termo, que ganhou destaque nos últimos anos, tem sido cada vez mais pesquisado por quem sente que algo está errado, mas não consegue dar nome ao que está vivendo. E o mais alarmante: essa forma de abuso pode causar danos profundos na saúde mental e até se refletir no corpo, por meio das chamadas doenças psicossomáticas.

O que é gaslighting?

Gaslighting é uma forma de manipulação emocional na qual uma pessoa tenta distorcer a percepção da realidade de outra, fazendo com que ela duvide de sua memória, sentimentos e até da própria sanidade.

Isso acontece, por exemplo, quando alguém constantemente nega fatos claros, diminui o que o outro sente ou faz com que ele se sinta errado o tempo todo, esteja exagerando sobre o que sente ou está sendo dramático demais.

Esse comportamento é comum em relacionamentos abusivos, mas também pode acontecer no ambiente de trabalho, na família ou em amizades, e, até mesmo, no meio médico, quando este questiona as dores de seus pacientes.

Sim, médicos podem praticar gaslighting contra seus pacientes — e, infelizmente, isso não é raro. Quando isso acontece, chamamos de gaslighting médico. Trata-se de uma forma de negligência emocional e epistemológica, em que o profissional desqualifica ou invalida os sintomas, percepções ou queixas do paciente, fazendo-o duvidar da própria experiência de dor ou desconforto.

Isso acontece ora por falta de preparo, outras por arrogância profissional. Também pode haver uma cultura médica que valoriza mais os exames do que a escuta, e em muitos casos, o médico nem percebe que está invalidando o paciente.

O resultado disso é um desgaste emocional constante, que mina a autoestima e coloca a pessoa em um estado de alerta, confusão e angústia. O efeito acumulado disso é devastador: a vítima perde a confiança em si mesma, começa a duvidar de tudo, se cala, sente culpa e medo constante. Aos poucos, essa fragilidade emocional pode desencadear uma série de sintomas físicos. E é aí que entra a ligação com as doenças psicossomáticas.

Doenças psicossomáticas: quando o corpo reage ao sofrimento emocional

Doenças psicossomáticas são condições físicas que têm origem ou são agravadas por fatores emocionais. Não são invenções da mente, são sintomas reais, sentidos no corpo, e que surgem como resposta a um estresse emocional crônico,sendo o gaslighting um gatilho frequente.

Sintomas comuns:

• Dores de cabeça frequentes ou enxaquecas;

• Problemas gastrointestinais;

• Tensão muscular;

• Falta de ar ou palpitações;

• Insônia;

• Cansaço constante, mesmo após descansar.

Esses sinais físicos, muitas vezes, aparecem justamente quando a pessoa não consegue mais expressar emocionalmente o que sente (ou quando tudo o que sente é constantemente desqualificado).

O impacto silencioso da manipulação emocional

O gaslighting não grita. Ele sussurra, aos poucos, até que a vítima não confia mais na própria voz.

Essa desconexão interna pode levar à ansiedade, depressão, crises de pânico e isolamento. E, sem perceber, o corpo começa a carregar o peso do que a mente já não dá conta de suportar.

Estar em um ambiente onde suas emoções são invalidadas, onde sua versão dos fatos é sempre posta em dúvida, cria um estado permanente de tensão e alerta, que desgasta tanto o psicológico quanto o físico.

E como você pode identificar e romper esse ciclo?

• Observe seus sentimentos;

• Valide sua percepção, mantendo um diário pode ajudar a perceber se há repetição de padrões abusivos;

• Converse com pessoas de confiança;

• Procure apoio psicológico.

A psicoterapia é um dos caminhos mais eficazes para quem deseja entender os efeitos do gaslighting, cuidar das dores emocionais e físicas que ele causa, e se fortalecer emocionalmente para não repetir esse padrão de relações. Com o apoio certo, é possível recuperar a confiança em si, aprender a colocar limites e retomar o controle da própria vida.

Gaslighting não é apenas uma palavra da moda, é uma realidade vivida por muitas pessoas em silêncio. Falar sobre o assunto, entender os sinais e buscar ajuda são passos fundamentais para transformar sofrimento em consciência e, a partir disso, reconstruir a própria saúde emocional e física.

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