EMOÇÕES: MAIS IMPORTANTE DO QUE SENTIR É ACEITAR
- Rita Galindo
- 12 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
A forma lúdica e didática que Divertida Mente 2 aborda um tema tão intenso e complexo, a ansiedade, é o que mais atrai.

Assisti, recentemente, à animação da Disney Pixar, Divertida Mente 2. E confesso que me surpreendi com o filme.
À princípio, não estava tão interessada em acompanhar a sequência da primeira franquia – não me agradou tanta gente falando das emoções expostas no filme, como se tantos outros da própria Disney Pixar também não discutissem sobre esse assunto.
Antes tarde do que nunca – e com a onda da estreia do desenho já ter cessado –, me abri para, finalmente, assistir a animação.
E me surpreendi.
O primeiro, eu já tinha gostado. O segundo, gostei mais ainda.
O fato de expor de forma direta as emoções e, sutilmente, como nós reagimos e percebemos essas emoções, e como internalizamos experiências da nossa vida é o que mais me atraiu.
Mas, o ponto-chave que realmente me agradou foi nos momentos finais, quando Riley e suas emoções entendem que mais importante do que sentir é aceitar.
Antes de prosseguir, esse texto contém informações do filme. Por isso, se você não assistiu o desenho e quer manter a surpresa, recomendo que retorne a este artigo depois. Do contrário, acompanhe minha reflexão.
Percorrendo a mente de Riley (e a nossa também)
Logo no começo, somos apresentados à fase mais conturbada de todo ser humano – sim, você não está fora dessa –: a adolescência. E já recebemos a indicação da bagunça que essa fase é para o jovem e pra quem está, diariamente, em seu convívio.
É nessa fase que, além da maturidade do corpo se processar, a personalidade da pessoa também se constitui, levando em consideração toda a experiência de vida até aquele momento e o que a pessoa tem vivenciado atualmente.
Tudo isso foi, brilhantemente, ilustrado pelas esferas de lembranças levadas até o fundo de sua memória, constituindo quem a Riley é. Ou seja, constituindo a consciência de si mesma.
Porém, tudo começa a ter mudanças abruptas por causa das emoções que até então não tinham se apresentado: vergonha, tédio, inveja e a badalada ansiedade.
Querendo ou não, os hormônios do corpo dos jovens podem gerar uma verdadeira montanha-russa de emoções. Dentre algumas preocupações comuns à adolescência, vale destacar aceitação, pertencimento, validação, reconhecimento, questionamento, proteção, relacionamentos e responsabilidades.
Em meio a tudo isso, as principais emoções começam a ser aprisionadas, sufocadas e levadas para uma prisão escura e super bem protegida.
Fala se você também não tem uma masmorra onde guarda tudo aquilo difícil de encarar? Nossa jovem representante, por exemplo, tem ali um enorme segredo enclausurado. Você reparou?
Ser sempre alegre cansa
Enquanto a Ansiedade toma o controle da jovem com algumas sugestões da Inveja, Alegria e companhia têm como objetivo resgatar, a qualquer custo, a constituição de pessoa da Riley, que foi removida, literalmente, pela Ansiedade, que agora constrói novas percepções do Eu para a jovem.
Aqui, mais uma vez, a representação de como a ansiedade age na pessoa foi brilhante: através de uma tela, ela projeta as mais variadas possibilidades de futuro – todas catastróficas – a partir do que a menina está vivenciando. As memórias, que agora são registradas pela Ansiedade, são levadas para construir uma “nova Riley”.
As afirmações que ecoam dessa nova construção ilustram bem como uma pessoa que tem ansiedade pensa dela mesma: como um fracasso; como alguém que precisa se moldar para ser aceito; entre outros pensamentos.
E é então que a Alegria, sempre muito positiva e otimista, surta, se revolta e chora de desespero, confessando que “ser sempre assim cansa”.
A sensação de quem tem uma doença como ansiedade e depressão é exatamente essa: desesperança. Por isso tantas pessoas com essas doenças começam a desistir por não verem solução para o que vivenciam. E, assim como a Alegria estava sufocada sem poder agir, essas pessoas perdem sua alegria em meio ao caos de pensamentos negativos.
Porque cansa mesmo.
Mais importante do que sentir é aceitar
Com o incentivo de seus colegas, Alegria segue com seu objetivo: um plano doido e mal planejado. Mas a Ansiedade, que planeja o futuro, teria um plano mais estruturado.
Ué! A ansiedade não é um caos? Sim e não.
Até certo ponto, a ansiedade nos prepara para o que está por vir: estudarmos para uma prova, nos prepararmos para uma entrevista de emprego, nos organizarmos para um encontro, etc. Essa é a ansiedade que age dentro do esperado. Nesse caso, é uma ansiedade mais positiva. É essa que aparece lá no finalzinho do filme.
Por outro lado, a ansiedade caótica é aquela representada ao longo da animação: que projeta milhares de futuros catastróficos e ecoa narrativas negativas da própria pessoa.
O auge desse caos se manifesta pela crise de ansiedade, muito bem representada quando Riley é penalizada durante o jogo de hóquei e se retira da pista: sua respiração acelera, sente aperto no peito, começa a suar intensamente, suas pernas se agitam.
Nesse momento, todas suas emoções estão reunidas novamente, observando o descontrole da Ansiedade. Ao se aproximar dela, Alegria consegue retirar Ansiedade do comando, que confessa estar tentando proteger Riley. Assim, todas juntas, as emoções removem a constituição da Riley com ansiedade e permitem que uma constituição completamente renovada se erga, ecoando narrativas variadas da jovem, aceitando que ela é forte, alegre, determinada, mas também tem medo, tem anseios, se enfurece.
As emoções aceitam que todas elas têm sua influência na Riley, e Riley aceita suas várias emoções. Ela controla a ansiedade e passa a administrar e regular suas emoções de maneira mais satisfatória dentro do que a fase da adolescência lhe permite.
Divertida Mente 2 vale o ingresso. Sua maneira didática de falar sobre as emoções, abordar como o psiquismo humano funciona e o lúdico num tema tão complexo tornam esse desenho uma fonte de muitas reflexões e discussões, especialmente entre crianças, adolescentes e seus cuidadores.
Deixo aqui a minha recomendação e um pedido para, se você assistiu à animação, compartilhe aqui comigo como foi sua experiência e lições que você tirou.
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Vamos, juntos, compartilhar e divulgar saúde mental!
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